segunda-feira, 14 de julho de 2008

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Natureza Morta

A pintura de natureza-morta (com temática de arranjos de frutas, legumes e utensílios domésticos) surgiu como um gênero mais simplório, no início do Barroco, derivado das pinturas que representavam cenas religiosas em cozinhas populares.

No século XVII a natureza-morta era considerada de menor importância (em relação às pinturas históricas, mitológicas e religiosas) e tinha um menor preço no mercado.

Como sua origem deriva da pintura religiosa, a natureza-morta passou a funcionar como metáfora moralizante dentro da cultura católica: a fruta que é bela por fora, mas apresenta indícios de podridão interna; ou apenas uma fruta que ostenta uma beleza tentadora e perigosa; ou até mesmo por causa da simbologia cristã de alguns alimentos.

Reafirmando este conteúdo moral, mas já não tão específicos da cultura católica, outros objetos e personagens foram colocados nas composições, como um gato faminto que deseja um peixe fresco estrategicamente colocado, ou caveiras.

A partir do século XVIII, na Espanha, a natureza-morta desviou-se do contexto popular de sua origem para servir como registro das condições sociais e do status de sua clientela (classe alta e média). Por essas pinturas podemos saber, por exemplo, que a carne de caça, de porco, o peixe fresco e o seco eram iguarias apreciadas por distintas classes sociais da província de Madri.

No final do século XIX e início do século XX, em meio aos ideais modernistas e das tendências formalistas, a natureza-morta voltou a ser vista como em sua origem: um gênero “sem tema”. Pela neutralidade dos “personagens” deste gênero, ele era apropriado para as pesquisas plásticas dos artistas (de composição, cor, figura, etc) sem estar sujeito a cair no sentimentalismo inerente ao tema da figura humana, por exemplo.

Nesse contexto, o naturalismo, uma das características mais marcantes da natureza-morta do século XVII, foi completamente abolido em favor de uma nova concepção de cor, luminosidade, figura e espaço. As caveiras e livros, representados isoladamente, também estiveram presentes nas obras dessa época: Pirâmide de Caveiras, de Cézanne, e Caveira e Natureza morta com Bíblia, de van Gogh. Nestas, por mais que se considere a busca formal presente na arte do período, está bastante visível o cunho simbólico que os “personagens” destas obras tinham para os artistas que as representaram.